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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Aos 83 anos, o senhor das coelhinhas contempla seu legado


Hugh Hefner, o dona da 'Playboy', e suas três namoradas

06 de novembro de 2009 - Foto: Getty Images



Brooks Barnes


Hugh Hefner estava recostado em um sofá vermelho meio bambo, em seu escritório na infame mansão Playboy, e tinha os dedos das mãos entrelaçados por trás da cabeça. Um visitante havia perguntado - ou, mais exatamente, gritado, já que Hefner tem problemas de audição - alguma coisa sobre mortalidade.

Aos 83 anos, será que ele pensa sobre isso?

Para resumir, não. Hefner, o notoriamente libidinoso fundador do grupo Playboy e profeta do hedonismo, não acredita que o fim esteja próximo. E tampouco age como se acreditasse. Continua a trabalhar o dia inteiro na revista, viaja à Europa e a Las Vegas, usa Viagra, vai a boates com as três namoradas que moram com ele - cada qual jovem o bastante para ser sua neta - e está trabalhando com o produtor Brian Grazer no desenvolvimento de um filme.

"Trata-se de um dos melhores momentos da minha vida', ele diz, sorrindo, de pijamas e chinelos. "Ela é ainda melhor e mais afortunada do que as pessoas imaginam".

Gostaríamos de acreditar, mas é difícil ignorar as realidades do negócio. A Playboy Enterprises, abalada pelas mudanças no mundo da mídia, está precisando de um choque cardíaco. Na terça-feira (3), a revista anunciou que reduziria a circulação que garante aos anunciantes de 2,6 milhões para 1,5 milhão de exemplares. A companhia sofreu prejuízos por sete trimestres consecutivos.

E, o que talvez seja ainda mais chocante, a Playboy anunciou este ano que estava disposta a considerar propostas de aquisição, algo que era considerado impensável enquanto Hefner vivesse.

Ele sabe que toda boa festa precisa chegar ao fim, e há muito tempo comprou um túmulo ao lado do de Marilyn Monroe, em um cemitério de Los Angeles. Em entrevistas ao longo dos anos, ele sempre disse que a vida não valeria a pena, sem a revista. "Se eu vendesse, minha vida se acabaria", Hefner declarou um dia. Mas talvez esteja mudando de ideia. "Estou levando mais a sério o fato de que já não tenho 30 anos de idade. Preciso pensar sobre a continuidade da revista."

Quer você o ame, quer o deteste, não há como duvidar da influência de Hefner sobre a história cultural dos Estados Unidos. Como editor de revistas, ele essencialmente fez, no campo do sexo, o que Roy Kroc (o criador da franquia McDonald's) fez pelas lanchonetes: desenvolveu um produto mais limpo e mais capaz de atender às necessidades da classe média ascendente.

Como força cultural, no entanto, Hefner continua a dividir o país - 56 anos depois que a Playboy foi lançada. Para aqueles que o defendem, ele foi o grande libertador sexual que pôs fim ao puritanismo e à neurose sexual nos Estados Unidos; para seus detratores, entre os quais muitas feministas e conservadores, ele ajudou a deflagrar uma revolução sexual que transformou as mulheres em objetos e vítimas, e promoveu uma abordagem imoral sobre a vida, exaltando a satisfação imediata e pouco importam as consequências.

Hefner reconhece que existem consequências sombrias, no movimento ao qual deu início, mas diz que "são um preço pequeno a pagar pela liberdade pessoal".

"As pessoas nem sempre tomam boas decisões. As verdadeiras obscenidades no planeta pouco têm a ver com o sexo", ele disse, acrescentando que "os tempos já não são tão românticos".

Não só menos românticos - dada a disponibilidade instantânea de pornografia na Internet e as conversas sem nenhuma censura sobre sexo na televisão, entre as quais as do programa The Girl Next Door, do próprio Hefner - como também capazes de fazer com que a Playboy pareça obsoleta.

Hefner, que usa a velha gíria "cat" cara para se referir a ele mesmo, por exemplo em "sou o cara mais sortudo do planeta", não tem opinião muito positiva sobre o atual cenário cultural. "Creio que a cultura pop, hoje, é uma sopa bem rala", disse. "No passado, era um mingau espesso".

Em março, com o mercado imobiliário desabando, Hefner colocou à venda a casa de sua mulher, localizada ao lado da Playboy Mansion, por US$ 28 milhões. Em agosto, ele fechou um contrato de venda por US$ 18 milhões. Hefner se separou de Kimberly Conrad Hefner em 1998, e pediu divórcio no começo de setembro. Ela abriu um processo contra ele, alegando que o ex-marido lhe deve US$ 4 milhões, nos termos de um acordo pré-nupcial, e com relação aos proventos da venda da casa.

Hefner continua a insistir em que não está com problemas de dinheiro, mas diversas das medidas que tomou parecem apontar nessa direção. O Los Angeles Business Journal reportou que o número de funcionários da mansão havia sido reduzido. Agora, é possível comprar ingressos para as festas antes exclusivas para convidados (ao preço de US$ 10 mil por pessoa), que continuam a ter papel chave na divulgação da marca Playboy. "Nem sempre é tão divertido quanto as pessoas supõem", disse Holly Madison, em entrevista no final do ano passado. Madison viveu sete anos com Hefner como sua "namorada número um", mas rompeu com ele no final de 2008.

Richard Rosenzweig, que trabalha na Playboy desde 1958, em diferentes funções, prefere discordar: "É um lugar ao qual muita gente aspira", ele declarou, em entrevista na sala de jantar de Hefner. "Todo mundo quer vir aqui."

 

The New York Times

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